O ataque israelense que provocou um incêndio em um acampamento na cidade de Rafah, em Gaza, já deixou 45 pessoas mortas, disseram autoridades nesta segunda-feira (27), provocando um clamor de líderes globais que cobraram a implementação de uma ordem da Corte Internacional de Justiça para interromper a ofensiva de Israel.
Famílias palestinas correram aos hospitais para preparar seus mortos para o enterro, após um ataque na noite de domingo incendiar tendas e abrigos de metal precários.
O Exército de Israel, que está tentando eliminar o Hamas em Gaza, disse que está investigando relatos de que um ataque que realizou contra comandantes do grupo islâmico em Rafah teria causado o incêndio.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o ataque não teve a intenção de causar mortes de civis.
“Em Rafah, nós já retiramos cerca de 1 milhão de moradores não-combatentes e, apesar de nossos maiores esforços para não ferir não-combatentes, algo infelizmente deu tragicamente errado”, disse ele em um discurso ao Parlamento que foi interrompido por gritos de parlamentares de oposição.
Sobreviventes disseram que famílias estavam se preparando para dormir quando o ataque atingiu o bairro de Tel Al-Sultan, onde milhares estavam se abrigando depois das forças israelenses começarem uma ofensiva por terra no leste de Rafah, mais de duas semanas atrás.
Mais de metade dos mortos era composta por mulheres, crianças e idosos, segundo autoridades de saúde de Gaza, governada pelo Hamas, que acrescentaram que a contagem de mortos provavelmente aumentaria devido a pessoas que sofreram queimaduras graves.
O Exército de Israel afirmou que o ataque de domingo, baseado em “inteligência precisa”, eliminou o chefe de gabinete do Hamas para o segundo e maior território palestino, a Cisjordânia, e outra autoridade por trás de ataques mortais contra israelenses.
O ataque aconteceu após a interceptação de oito foguetes disparados contra Israel da região de Rafah, no extremo Sul de Gaza.
Israel manteve sua ofensiva, apesar de uma decisão da principal corte da ONU na sexta-feira (24) determinando que fosse interrompida, dizendo que aquela decisão lhe concedeu alguma margem de manobra para operações militares em Rafah. O tribunal também reiterou pedidos pela libertação imediata e incondicional dos reféns mantidos em Gaza pelo Hamas.
Os EUA pediram que Israel seja mais cuidadoso para proteger civis, mas não chegou a cobrar a paralisação da incursão em Rafah.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse estar “indignado” com os mais recentes ataques de Israel. “Essas operações precisam parar. Não há regiões seguras em Rafah para civis palestinos”, afirmou ele no X. Milhares de manifestantes se reuniram em Paris para protestar contra a ofensiva em Gaza.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, e o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, disseram que a decisão da Corte Internacional de Justiça precisa ser respeitada.
A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos também condenaram o ataque israelense, e o Catar afirmou que o ataque em Rafah pode prejudicar esforços para mediar um cessar-fogo e uma troca de reféns.
O Egito condenou o “bombardeio deliberado das tendas dos deslocados” pelos militares israelenses, informou a mídia estatal, descrevendo-o como uma violação flagrante do direito internacional.
A agência da ONU para refugiados palestinos disse que a situação é horrível. “Gaza é o inferno na terra. As imagens da noite passada são mais uma prova disso”, escreveu a UNRWA no X.
*Reportagem adicional de James Mackenzie, Jana Choukeir, Clauda Tanios, Mohammed Salem, Gabrielle Tétrault-Farber, Tassilo Hummel, Jarrett Renshaw e Adam Makary
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Agência Brasil