Gilvanete Guedes, Margarida Soares e Eleni Mesquita. Elas enfrentaram o câncer de mama em épocas e situações diferentes – mas passaram por medos e vitórias semelhantes Hoje, se dedicam à prevenção do câncer de mama e a estimular outras mulheres a vencerem a doença| FOTO: ALEX RÉGIS

Tádzio França
Repórter

O mês da campanha Outubro Rosa está chegando ao fim, mas a prevenção é para sempre. O câncer de mama é a primeira causa de morte por tumor maligno na população feminina em todo o Brasil, e há uma projeção de 75 mil novos casos até 2025. As duas maiores barreiras para o diagnóstico precoce permanecem: falta de conhecimento e de acessibilidade aos exames e a especialistas. É nesse contexto que a propagação de informação e o aumento da cobertura mamográfica da população devem andar juntas nos avanços sobre a doença.

A mastologista Diana Sampaio afirma que nos últimos anos houve muitos avanços em relação às descobertas de novos alvos terapêuticos no câncer de mama. “Pacientes que antes tinham poucas opções de tratamento hoje conseguem viver com qualidade de vida. O tratamento tem se tornado cada vez mais individualizado, oferecendo melhores chances de resultados com menor risco de efeitos adversos”, diz.

A medicina personalizada tem se mostrado um caminho eficiente para tratamentos mais eficazes contra o câncer de mama. “Exames genéticos e moleculares são ferramentas importantes para elaborar a melhor estratégia terapêutica. Tratar a saúde de cada paciente oncológico de uma forma exclusiva melhora o prognóstico dessas pacientes e aumenta as chances de cura”, explica.

A imunoterapia é outro avanço importante no tratamento contra o câncer, sobretudo o de mama.

“Ela auxilia o próprio sistema imunológico do paciente a identificar e combater a doença. Atualmente utilizamos a imunoterapia no câncer de mama triplo negativo no cenário neoadjuvante e no cenário metastático“, explica Luciana Carla Pimental, oncologista da Liga Contra o Câncer.
Prevenção e diagnóstico precoce ainda são as armas mais eficazes no combate ao câncer – mesmo que a multiplicidade de fatores (sendo alguns imutáveis) não permita que essa prevenção seja completa. “Os fatores de risco em que conseguimos atuar e diminuir o risco de câncer de mama basicamente são aqueles relacionados aos hábitos de vida: praticar atividade física, alimentação saudável, manter peso adequado, evitar tabagismo e etilismo”, diz.

Já o diagnóstico precoce envolve a consulta com especialista para exame físico e exames de imagem adequados. “A mamografia, que é considerada o exame de rastreio, permite diagnóstico de lesões subclínicas, que permite aumentar a chance de cura das pacientes e diminuir o tratamento”, completa a mastologista.

O suporte psicológico é fundamental no processo de cura do câncer de mama. “Com apoio, informações atualizadas e os cuidados médicos adequados, é possível enfrentar essa situação com coragem e determinação. Assim como a qualidade de vida com prática de atividades físicas, a alimentação adequada melhora a resposta ao tratamento e diminui o risco de recidiva”, explica Diana Sampaio.

Medos e vitórias
Elas enfrentaram o câncer de mama em épocas e situações diferentes – mas passaram por medos e vitórias semelhantes. A enfermeira aposentada Gilvanete Guedes descobriu a doença quando tinha apenas 32 anos. “Senti algo diferente nos seios quando os sintomas da menstruação não passaram. Fiz uma mamografia. Após 15 dias de compressas e anti-inflamatórios o edema não regrediu, e o médico recomendou uma mastectomia radical. Era 1986, não havia os recursos de hoje”, conta.

Gilvanete ressalta que na década de 1980 o medo e a desinformação sobre o câncer de mama eram bem maiores. “Eu já tinha três filhos na época e ninguém para trocar experiências sobre o assunto. As pessoas escondiam, havia medo e vergonha. Foi algo que precisei aprender a lidar no dia a dia”, diz. Só em 1996, 10 anos depois, ela se sentiu à vontade para fazer a reconstrução da mama. “Isso mexe demais com a mulher, e o apoio da família e amigos é fundamental”, aponta.

A professora Margarida Soares descobriu o câncer aos 51 anos. Ela era precavida e já tinha o hábito de fazer a mamografia regularmente. Mas nem isso a preparou para a notícia. “Primeiro a gente fica desnorteada, sem chão. A vista para o futuro é a pior possível. Mas depois, quando o médico dá a palavra e lista as possibilidades de cura, vem um otimismo crescente”, diz ela.

Margarida fez a operação de retirada do tumor pelo procedimento chamado quadrantectomia, que permite a reconstrução da parte lesada e a harmonização do tamanho dos seios. Em seguida ela fez pouco menos de um ano de quimio e radioterapia, tendo hoje uma vida normal. “Consegui viver normalmente e superar todo aquele sofrimento. A minha história com o câncer teve um final feliz”, afirma.

Eleni Mesquita, atual coordenadora do Grupo Despertar, que apóia mulheres que já passaram pela experiência do câncer, descobriu a doença aos 44 anos, de uma forma inusitada. “A minha filha, que era estudante de medicina na época, indagou se eu já tinha feito o autoexame. Eu nem pensava no assunto. Então ela fez em mim e achou um nódulo”, conta. Quinze dias depois, Eleni já estava sem a mama esquerda.

O apoio familiar foi essencial para que Eleni lidasse com o processo de cura. “A minha filha cedeu o próprio cabelo pra mim quando passei pelos processos de quimioterapia. Meu marido jurou que ia parar de beber se eu fosse curada. Eu lutei para ficar viva e devolver esse amor. Felizmente, deu tudo certo”, conta.

Uma rede de apoio, orientação e afeto é justamente do que ela dispõe à frente do Grupo Despertar, que conta atualmente com mais de 70 mulheres. Juntas, elas dançam, cantam (têm um elogiado coral), fazem yoga, artesanato, e trocam suas experiências de vida pós-câncer. “É assim que nos fortalecemos e seguimos nossa vida normal”, conclui.

O Grupo Despertar foi criado no começo dos anos 1990, como uma iniciativa voluntária empreendida por mulheres que passaram pela experiência do diagnóstico e do tratamento de câncer de mama. O objetivo da iniciativa é apoiar e levar alento a mulheres com a doença, por meio da orientação e humanização do processo de terapia.

Tribuna do Norte

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