Em 2024, o preço do quilo da carne bovina bateu uma média de R$ 33,00. De janeiro a novembro, o mês com valor mais alto foi o de novembro, com um preço médio de R$ 36,77. Os dados têm por base os Índices de Preço ao Consumidor, divulgados pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema). Esse crescimento afetou todos os tipos de cortes, especialmente os mais nobres, como a picanha. Os consumidores perceberam o preço elevado e atribuíram aos impostos cobrados pelo governo.
O presidente da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn), Mikelyson Góis, afirma que a carne começou a ter um aumento em agosto deste ano. “De agosto a novembro, a arroba do boi, subiu em torno de 43%. E cada corte obedece a esse aumento. E as lojas, os açougues, fazem o repasse desses aumentos para os cortes, de acordo com a demanda da sua venda e a necessidade de vender determinado corte”, explica.
Segundo ele, a picanha divide-se em normal, a chamada picanha mais magra, dupla e convencional, e a picanha mais premium. “A picanha normal está, em média, custando ao consumidor R$ 60,00 o quilo. E essa mais premium tem a partir de R$ 75,00 no mercado do Rio Grande do Norte”, exemplifica.
Mikelyson Góis afirma que a picanha nunca teve uma representatividade alta na venda das carnes. “Nós temos outros cortes que superam em muito a venda da picanha. A nossa maior venda da carne de primeira é o colchão mole, o colchão duro, o patinho. Na carne com osso, é o acém, a posta gorda, a costela. Então, tem esses cortes que são muito mais vendidos. Isso tira essa falsa notoriedade da picanha”, diz o dirigente.
Para o consumidor Manoel Gomes, de 69 anos, o valor da picanha está cada vez mais alto. Segundo Manoel, o preço aumentou devido aos altos impostos cobrados que afetam não somente alimentos, mas também aluguéis de imóveis. “O governo Lula prometeu picanha para todo mundo, mas não foi isso que aconteceu. Eu vi lugares em que a picanha custava R$ 80”, expressou.
Manoel conta que sua família é composta por três pessoas: ele, a esposa e o filho. Somente ele não consome carne, mas, mesmo assim, ainda é difícil manter a picanha na dieta da família. “Antes a gente já não comprava a picanha, agora então é que não vamos comprar mesmo. Com o valor que é o salário mínimo é complicado manter uma família e ainda comprar carnes mais caras. Agora até as carnes que eram mais baratas estão caras”, finaliza o consumidor.
A inflação acumulada no setor de alimentos em 2024 também impactou a cesta básica como um todo. Produtos derivados da carne, como linguiça e carne moída, também tiveram seus preços elevados. A média de R$ 33,00 por quilo em 2024 reflete um aumento de 11,74% quando comparado ao início do ano, em janeiro, cujo preço médio era de R$ 32,90. Esse reajuste refletiu diretamente nos hábitos alimentares das famílias, que passaram a optar por cortes alternativos e proteínas mais acessíveis, como frango e ovos.
Rosana Câmara, de 36 anos, compartilha do mesmo pensamento que Manoel Gomes. Para ela, a alternativa para tentar economizar nas compras mensais é procurar cortes mais acessíveis. Na casa de Rosana são 6 pessoas morando juntas. Com o crescimento no valor das carnes, Rosana optou por consumir mais frango, linguiças e carne de porco. “Ano passado a picanha já estava mais cara, mas ainda dava para comprar. Esse ano já está quase impossível. Pior que não é nem só a picanha, é tudo. Tudo aumentou de valor absurdamente”, relata Rosana.
A análise mensal mostra que agosto foi o mês com o menor preço do quilo da carne bovina em 2024, com uma média de R$ 31,90. Esse valor, no entanto, ainda é considerado alto pelos consumidores. A diferença entre o mês mais caro e o mais barato foi de 15,27%, Apesar de agosto ter registrado um preço mais acessível, a tendência de alta voltou a ser notada nos meses subsequentes.
O Núcleo de Pesquisa do Procon Natal também registou um aumento de 6,06% no preço médio da carne de primeira, chegando a R$ 47,13 por quilo em novembro. Além disso, outro tipo de carne registrou crescimento, a carne de sol (3,79%). Para os consumidores, a situação está se tornando cada vez mais extrema. Rosana Câmara comenta que a carne de sol também é difícil de ser comprada para o consumo em sua casa. Com 6 pessoas para alimentar, as escolhas dos itens que entram no carrinho de comprar precisam ser analisadas e calculadas antes de chegar ao caixa.
Victoria Oliveira, de 40 anos, diz que a culpa dos altos valores é de tudo que acontece no mundo, tanto política como impostos e o setor de agropecuária. “Esses valores altos das carnes estão um absurdo. Isso é culpa de tudo que está acontecendo no mundo, aí quem paga é o consumidor. A gente trabalha para comer algo melhor, mas com esses preços não dá”, reclama.
Tribuna do Norte