A sarcopenia ocasiona fragilidade, redução de massa muscular, aumento do risco de quedas e diminuição da expectativa de vida| Foto: FREEPIK
Tádzio França
Repórter
Estimular a adoção de hábitos saudáveis antes e durante a terceira idade é uma iniciativa fundamental para evitar o problema chamado sarcopenia. Trata-se de uma doença que envolve a perda de massa, força e função muscular entre pessoas idosas. É um processo que começa lentamente aos 30 anos e se intensifica a partir dos 60 anos. A sarcopenia pode impactar diretamente as atividades diárias do indivíduo, comprometendo sua qualidade de vida e longevidade. Além disso, muitos idosos possuem doenças crônicas não transmissíveis que aumentam os riscos.
Estudos mostram que cerca de 20% das pessoas acima de 70 anos e até 50% dos idosos com 80 anos apresentam a doença, segundo os critérios do European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a parcela de idosos com 65 anos ou mais, no Brasil, saltou de 7,7% em 2012 para 10,2% em 2021, chegando a 21,6 milhões de pessoas.
A sarcopenia ocasiona fragilidade, aumento do risco de quedas e diminuição da expectativa de vida, enfatiza o gastroenterologista José Gurgel. “Vários fatores podem contribuir para o seu desenvolvimento. Acredita-se que o sedentarismo associado a uma dieta pobre em proteínas seja um dos fatores preponderantes, mas a coexistência com doenças crônicas, tais como o diabetes e doenças do coração podem acelerar o seu desenvolvimento”, explica.
A doença faz parte de um processo lento e individual, portanto, o diagnóstico não é tão simples quanto parece. “Nas fases iniciais, a sarcopenia pode ser difícil de ser diagnosticada sem um certo grau de suspeita clínica. Existem questionários que tentam encontrar casos mais óbvios, um deles elabora um questionário que pode ser aplicado na consulta médica”, diz o médico.
Segundo José Gurgel, para se chegar ao diagnóstico são feitas determinadas perguntas ao paciente como, a dificuldade para segurar um peso de 5 quilos, dificuldade para se levantar da cadeira, quedas no último ano, entre outras. Quando positivas, levantam grau de suspeita da presença de sarcopenia. No exame físico, uma baixa massa muscular vista em medidas antropométricas auxiliam no diagnóstico, como por exemplo a medição da panturrilha.
“O exame clínico e os métodos de imagem, como a bioimpedância e a densitometria de corpo inteiro, são instrumentos fundamentais para diagnosticar a sarcopenia”, pontuou José Gurgel. Segundo ele, o problema é mundial e, apesar disso, muitas pessoas o desconhece. “Muitas pessoas chegam aos 60 ou 70 anos sem imaginar quão fracas estão, quão sarcopênicas estão, e isso certamente reduz sua longevidade”, completou.
Há pessoas com maior predisposição a desenvolver a doença, afirma o médico. É gente a partir dos 60 anos de idade que não pratica atividades físicas, portadores de doenças crônicas, e também mulheres menopausadas. “A razão reside no favorecimento dessas condições ao processo gradativo de perda muscular. O músculo, hoje em dia, não é mais considerado apenas um elemento de locomoção. Ele também exerce ações importantes na cognição, na saúde óssea, no metabolismo da glicose, na função cardíaca e a nível celular, e na produção de energia”, explica.
O próprio envelhecimento, um processo natural do corpo, é o fator de risco que pode desenvolver a sarcopenia. “No envelhecimento, naturalmente ocorre um declínio da produção de proteínas musculares, alterações nos hormônios e redução da atividade física”, diz. Ele também cita os pacientes hospitalizados que podem sofrem perda da musculatura pela imobilização, bem como com eventuais diminuições da ingesta alimentar, causando deficiência de proteínas e vitamina D.
O médico explica que doenças como diabetes, artrite reumatóide e doenças cardíacas também podem acelerar a degradação muscular. Outro fator seria o uso abusivo de medicamentos como os corticosteroides, que podem aumentar a perda da massa magra por inibir a formação muscular. Gurgel alerta que a sarcopenia não deve ser confundida com a desnutrição. “Elas podem coexistir, mas não necessariamente uma pessoa sarcopênica está desnutrida”, observou.
Tratamentos
O tratamento da sarcopenia é focado na correção de erros alimentares muito comuns na população em geral, e na prática de exercícios físicos orientados de acordo com a idade e a condição física da pessoa. José Gurgel explica que os exercícios físicos são as estratégias de tratamento mais indicadas, pois estimulam a construção muscular. “O treino de musculação é o mais importante, devendo começar de forma gradual com a supervisão de profissional qualificado, principalmente em idosos com fragilidade”, ensina.
No quesito alimentar, a dieta adequada, balanceada e com bom aporte protéico, se associa aos exercícios físicos como os grandes pilares do tratamento. “Não raramente, o idoso passa a consumir uma dieta pobre em proteínas, um macroelemento essencial para a síntese muscular. A suplementação com whey protein se reveste de grande importância, associada ao uso adequado da creatina, vitamina D, mega 3 e do ácido hidroximetilbutirato”.
As escolhas dessa dieta devem ser equilibradas e diversificadas, priorizando o consumo de proteínas (carnes, frango, peixes, ovos e derivados do leite ) e de fibras ( grãos, aveia, linhaça, chia e verduras folhosas) nas refeições.
É possível sim se prevenir conta a sarcopenia. Segundo o médico, faz parte da iniciativa manter-se sempre ativo, evitar o sedentarismo, procurar fazer musculação com orientação, dieta adequada com bom aporte protéico, atenção ao peso, controlar eventuais doenças crônicas, e evitar o uso abusivo do álcool e do cigarro.
Entre os avanços mais recentes no diagnóstico e tratamento da sarcopenia estão a densitometria de corpo inteiro e a bioimpedância, “ambos de fácil execução e praticamente isentos de riscos”, ressalta o médico. A densitometria avalia a massa muscular e de gordura, e analisa a massa óssea. Já a bioimpedância, entre outras coisas, analisa o ângulo de fase, uma informação que tem sido muito pesquisada por cientistas da área e que pode indicar um mau prognóstico.
Tribuna do Norte