Horas em frente ao celular ou computador podem parecer inofensivas, mas a repetição desse hábito está diretamente ligada ao aumento de casos de problemas na coluna cervical. A chamada “epidemia do sedentarismo tecnológico”, já reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), vem afetando principalmente os mais jovens, alerta o neurocirurgião e cirurgião de coluna Marco Moscatelli.
No Brasil, a prevalência de dor crônica já ultrapassa a média mundial: 37% dos brasileiros convivem com algum tipo de dor persistente, sendo muitas delas relacionadas à má postura. Um dos principais vilões, segundo o especialista, é o chamado “text neck” – expressão usada para descrever a postura incorreta adotada durante o uso de dispositivos móveis.
“A tecnologia veio para facilitar nossas vidas, mas a dependência e o uso inadequado estão cobrando um preço alto para a saúde da nossa coluna, especialmente a cervical”, afirma Moscatelli. Ele explica que a inclinação da cabeça para olhar o celular pode multiplicar a carga sobre a coluna em até quase quatro vezes. “Em posição ereta, o crânio exerce uma força de cerca de 6 kg sobre a coluna. Ao inclinarmos a cabeça em um ângulo de 45 graus para olhar o celular, essa força salta para aproximadamente 22 kg. É como carregar um peso considerável pendurado no pescoço por longos períodos.”
Entre as consequências estão dores no pescoço, dores de cabeça, tonturas, hérnias de disco, dormência, perda de força nos braços, entre outras complicações que afetam a qualidade de vida. Os efeitos, embora muitas vezes sutis no início, podem evoluir para quadros crônicos se não forem tratados.
Para prevenir essas lesões, o médico recomenda adotar uma rotina de cuidados. “A chave está em equilibrar o uso da tecnologia com hábitos saudáveis. A prática regular de atividade física, focando no fortalecimento da musculatura paraespinhal e do ‘core’ – músculos abdominais e dorsais –, é fundamental para estabilizar a coluna.” Ele também orienta o uso do celular na altura dos olhos, evitar longos períodos sem pausas, alongar o pescoço com frequência e fortalecer a postura com exercícios específicos.
Além disso, Moscatelli reforça que a atenção aos primeiros sinais é essencial. “Um diagnóstico precoce, através de exames físicos e de imagem, é essencial para evitar que um problema que muitas vezes é de fácil resolução se torne crônico e mais complexo de tratar”, conclui.
O Poti