Ex-ministro no governo do presidente Jair Bolsonaro (2019/2022), como chefe da Casa Civil, o presidente nacional do PP e senador pelo Piauí, Ciro Nogueira, abonou a filiação ao partido do deputado federal João Maia (ex-PL). Um dos principais nomes de oposição ao governo Lula no Senado Federal, Ciro Nogueira falou à TRIBUNA DO NORTE sobre as promessas não cumpridas pelo atual presidente da República e as incertezas da economia – “o ministro Haddad disse que está nas mãos de Deus”. Nogueira afirmou, ainda, trabalhar pelo crescimento do partido no país. “O Progressistas de quatro anos atrás por pouco não se tornou o maior partido do país, já somos o maior partido do Nordeste em número de prefeitos e vereadores, a gente ficou muito feliz agora, com as filiações de diversas pessoas, e em especial no Rio Grande do Norte, com a vinda do deputado federal João Maia pelo convite feito por Betinho Rosado”.
Qual a sua avaliação dos dez primeiros meses do atual governo Lula?
Todos conhecem o meu posicionamento de oposição ao atual governo federal. Acho que existe uma frustração muito grande no país, é um presidente que realizou muito no primeiro governo e prometeu demais na melhoria de vida para as pessoas, prometeu unificar o país, prometeu que o Brasil ia ser respeitado mundial. Enfim, prometeu que as pessoas iriam melhorar de vida e até agora a gente tem visto o contrário, as pessoas estão cada vez mais com dificuldades, o problema da fome se agravando no país inteiro, tudo aquilo que o Brasil ia ter de crescimento está estagnado, internacionalmente tem sido um governo de equívocos na condução da política externa brasileira. Então, o meu sentimento é puramente de frustração.
O PT e o Governo Lula ainda resistem em classificar o grupo Hamas como terrorista. Porque há essa dificuldade toda do petismo com o assunto?
Porque coloca os interesses do seu partido e de sua ideologia, acima dos interesses do mundo. Não classificar aqueles atos horrorosos de matar jovens durante uma festa, decapitar crianças, estuprar mulheres, trazendo o caos aquela região (Faixa de Gaza, Oriente Médio), como há muito tempo não se via, e isso não dever ser condenado como terrorismo, o que é que pode ser? E a desculpa que ele (presidente Lula) deu, é que a Organização das Nações Unidas (ONU) não classificou como terrorismo e aqueles velhinhos de 8 de janeiro, que não mataram ninguém, a ONU condenou como terroristas, o presidente passou a chamar aquelas pessoas de terroristas. Então veja, são dois pesos e duas medidas e isso nos entristece e nos envergonha ao nosso país perante o mundo.
O PT criticou duramente o que ficou conhecido como orçamento secreto no governo do presidente Jair Bolsonaro. agora, criou as emendas “pix”. Qual a diferença?
Nenhuma. Ali era um discurso de campanha, um discurso para enganar as pessoas, o governo pagou todas aquelas emendas, que não precisavam ser pagas e cai por terra mais uma mentira que o presidente Lula disse na campanha.
Qual a diferença da articulação política do governo Lula para a do governo de Jair Bolsonaro?
O presidente Bolsonaro implementou aquela forma diferente de separar o que é público das questões políticas e partidárias, blindou as nossas empresas estatais, os próprios ministérios não foram entregues porteira fechada. Agora, nós vimos tudo de volta, no passado deu errado e tem tudo para dar errado novamente.
Então, o senhor acha que o presidente Lula tem utilizado a coisa pública como se fosse uma moeda de troca?
Não tenha dúvida, porque isso ele fez no passado. Naquela época era uma outra época, as pessoas não controlavam os votos dos seus parlamentares, muita gente não lembrava nem em quem tinha votado, hoje um parlamentar quando vota, no minuto seguinte chega o Whatsapp parabenizando ou criticando, as pessoas são cobradas nos aeroportos, nos bares, então existe uma fiscalização e isso é muito bom para a democracia. Por isso que esse governo não foi capaz ainda de fazer uma base de apoio consistente no Congresso Nacional, porque essa política do “toma lá, da cá” foi extirpada da nossa política por Jair Bolsonaro e não tem como isso voltar a ter sucesso no país.
Se Lula indicar o ministro da Justiça, Flávio Dino, ao STF, o senhor votará a favor?
Não falo por hipóteses. É um direito do presidente indicar quem ele quiser, desde que o nome que ele indicar, se cumprir os requisitos, superar a sabatina de forma convincente, mas gostaria muito que o presidente Lula não indicasse por ter perdido a eleição, mas é um direito dele indicar.
Como senador como o senhor tem visto a investida do Congresso aumentando a pressão sobre o Supremo Tribunal Federal? O STF tem ultrapassado seus limites?
Acho que o STF está com protagonismo demais, os ministros muitos expostos. Se perguntar qual a escalação da Seleção Brasileira, que tem envergonhado a gente, talvez nem lembrem os nomes dos 11 jogadores, agora os nomes dos 11 ministros todos sabem. Então, é uma superexposição que não tem feito bem nem ao STF e nem às instituições, acho que temos de respeitar, o STF é importantíssimo para o país, temos que respeitar as atribuições, mas esse excesso de ativismo judicial, no meu ponto de vista, tem extrapolado os limites que a Constituição Federal deu ao STF.
O senhor acha que o Congresso vai aprovar limites para o STF?
Vai aprovar, acredito que sim.
Há uma diferença do PP na Câmara dos deputados e do PP no Senado Federal?
Nós temos no Senado Federal um PP 100% oposição. Na Câmara Federal uma parte dos deputados, principalmente da região Nordeste, tem um viés de maior aproximação com o governo, temos de saber respeitar o direito das pessoas, agir conforme o seu pensamento, e que elas têm de prestar contas não é a mim, nem à gestão partidária, é ao eleitor dos seus Estados, que devem aprovar ou não essa conduta.
O senhor acha que como está posta a Reforma Tributária vai passar este ano?
Acho que sim, a nossa preocupação é que a reforma tributária não pode trazer mais aumentos de impostos, aumento de carga tributária, ela tem que vir para simplificar, trazer redução de custos, tanto para o estado na hora de arrecadar, mas principalmente ao próprio contribuinte, gasta-se uma verdadeira fortuna, seja nas empresas com departamento de contabilidade ou o próprio contribuinte, que é incapaz de fazer sua prestação de contas, a declaração de imposto de renda, e tenha auxílio de um profissional porque é tão complicado, a quantidade é tão grande de impostos, e isso a reforma está combatendo, porque é muito complexo.
E com relação ao arcabouço fiscal, qual a avaliação que o senhor faz dele?
Esse é um governo que só tem se preocupado em gastar, aumento no número de ministérios, aumentos de gastos para contribuir com a “companheirada”, não preza a gestão pública eficiente, não preza a economia de recursos públicos e é muito difícil dar certo. Veja o caos que aconteceu na Argentina, que tem uma visão parecida, em outros países têm dado errado. Infelizmente tem tudo para acontecer no nosso país.
Então é imprevisível o que pode acontecer lá na frente?
O ministro da Economia (Fernando Haddad) disse que ‘está nas mãos de Deus!’ Então é falta de previsibilidade ou falta de compromisso desse povo com o país.
Qual a sua ala no bolsonarismo?
Eu sou até mais radical que o Bolsonaro no que diz respeito à diminuição do estado, ter um estado eficiente, não tenho tanta aproximação nessa questão de armas e outras situações com o ex-presidente Bolsonaro, mas tenho total sinergia e total identificação na paixão pelo país, na forma correta que o cidadão tem de ser respeitado, na defesa da família, em pautas que não deveriam estar de volta, como a questão do aborto, descriminalização de drogas, ideologia de gênero, banheiro unissex para as nossas crianças, essas coisas tenho total identificação com o presidente Bolsonaro, condição de ter um país enxuto, preste melhores serviços à população, uma economia mais eficiente e sem intervenção do estado.
A ala radical perdeu o bonde da história?
Os extremos têm que ser respeitados, como o centro tem que ser respeitado. Se eles existem, é porque têm pessoas que apoiam, mas acho que no nosso país está na hora de termos um centro. Costumo dizer que o maior eleitor do Brasil é o anti-PT e o anti-Bolsonaro. Está na hora de unificarmos o nosso país, chega de brigas.
Tribuna do Norte