Antes de mais nada, o debate não é no Brasil, então pode se tranquilizar. Em 2023, a Índia viu emergir um intenso debate nacional sobre produtividade e jornada de trabalho. O ponto de partida foi uma declaração polêmica de Narayana Murthy, bilionário e ex-CEO da gigante de tecnologia Infosys. Para ele, os jovens indianos deveriam estar dispostos a trabalhar até 70 horas por semana. A proposta foi endossada por outros líderes do setor, como o chefe do conglomerado Larsen & Toubro, que chegou a sugerir uma jornada ainda mais extrema: 90 horas semanais.

discussão ganhou força em um momento de forte tensão social e está em alta na Índia, sendo trazida à tona, especialmente porque o governo pode implementar mais horas de trabalho oficialmente. Após a pandemia, o país enfrenta protestos contra reformas que pretendem ampliar a carga horária legal de oito para doze horas diárias. Apesar disso, para Murthy, o esforço extra seria necessário para que a Índia possa competir com potências tecnológicas globais.

“A produtividade do trabalho da Índia é uma das mais baixas do mundo”, declarou o empresário, que chegou a lamentar a transição, em 1986, da semana de seis para cinco dias úteis no país.

O argumento central desses líderes empresariais é simples: não há substituto para o trabalho duro. Alguns vão além. “Se pudesse fazer vocês trabalharem aos domingos, ficaria mais feliz. Eu também trabalho aos domingos. O que você está fazendo sentado em casa?”, afirmou o chefe da Larsen & Toubro durante um evento recente, em tom provocador.

Será que mais horas significa mais produtividade?

Mas os dados contam outra história. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, a média de horas trabalhadas por semana já é alta na Índia, girando em torno de 47 horas — um número que sobe ainda mais no setor de serviços de tecnologia. Ainda assim, especialistas e empreendedores com uma visão diferente alertam que o problema não está na quantidade de horas, mas na qualidade do trabalho.

Ronnie Screwvala, outro nome relevante do setor, rebateu: “Para aumentar a produtividade, não basta trabalhar mais. É preciso trabalhar melhor. Isso significa capacitação, ambiente de trabalho saudável e remuneração justa.” A crítica destaca a desconexão entre esforço e resultado, algo que estudos internacionais já demonstraram: jornadas exaustivas tendem a prejudicar a saúde mental e a eficiência dos trabalhadores.

Enquanto a elite empresarial indiana pressiona por mais horas de trabalho, a juventude do país — especialmente no setor de tecnologia — se vê no centro de uma discussão complexa. É possível alcançar desenvolvimento econômico sem sacrificar o bem-estar dos profissionais? A resposta, ao que tudo indica, ainda está longe de um consenso.

IGN Brasil

Neuropsicopedagoga Janaina Fernandes