A ascendente construção de um grupo de direita no Rio Grande do Norte é um processo saudável e natural da democracia. Os pensamentos contrários são fundamentais para que a sociedade possa avançar com equilíbrio. Sem se arrastar com o peso dos retrocessos, mas sem correr para cair na incerteza. Contudo, apenas o rótulo não torna alguém de direita. Bradar aos que é conservador, atacar direitos humanos ou simplesmente antagonizar à esquerda não torna alguém de direita.
E, talvez por isso, tem sido tão difícil a direita no estado – e mesmo na capital potiguar – conseguir competir de maneira robusta nas eleições recentes. As disputas em seu ecossistema não têm permitido o nascimento de uma liderança em razão da natureza canibalista e narcisista de diversos personagens. A prova disso é a eleição estadual mais recente na qual o candidato a competir com a líder das pesquisas, à então candidata Fátima Bezerra, foi definido às vésperas do pleito e resultou em derrota acachapante.
A lição parecia ter sido aprendida. Não havia qualquer intenção de oferecer um novo WxO. Em outubro deste ano, quase 365 dias antes das eleições municipais, uma foto registrou um jantar entre os senadores Rogério Marinho e Styvenson Valentim, deputados federais Paulinho Freire, Sargento Gonçalves e General Girão, além do ex-prefeito Breno Queiroga e o comunicador Bruno Giovanni. O encontro de representantes do União Brasil, PL, Podemos e PSDB no estado sinalizava um movimento consistente com o anúncio de que o fim de novembro seria a data estipulada para anunciar um nome de consenso do grupo. Não durou 24 horas.
No dia seguinte, Gonçalves já reafirmava sua candidatura à Prefeitura do Natal. Tempo depois, Styvenson reunia quase uma centena de prefeitos sem a presença de parte da confraria de outubro. Também correu a notícia do acordo entre Paulinho Freire e o líder das pesquisas Carlos Eduardo Alves (PSD). E, mais recentemente, o PSDB municipal reuniu-se com a deputada federal e pré-candidata à prefeitura, Natália Bonavides (PT). Detalhe: o partido rifou seu próprio pré-candidato, Bruno Giovanni, que deixou o partido após o episódio.
Aquilo que reuniu os indivíduos naquela mesa primaveril – o desejo de derrotar a esquerda –, não era maior do que o amor de alguns pelo próprio reflexo na urna. O problema é que, assim como o mito do belo Narciso, o fim da história pode não ser dos melhores. Ao cair de amores pela sua própria imagem, e viver a autocontemplação, o mito caiu e afogou-se. Virou flor e objeto de contemplação. Também assim por aqui, a direita ganha o voto identitário, mas sem interesse pelo outro, pode novamente padecer na solidão do fracasso eleitoral.
AgoraRN