Medo. Este é o sentimento que Larissa Amaral da Silva sentiu após descobrir que o empresário Rodrigo Morgado, dono da Quadri Contabilidade, foi preso por porte ilegal de arma durante uma operação da Polícia Federal contra o tráfico internacional de drogas. A auxiliar contábil, de 25 anos, foi demitida e perdeu um Jeep Compass que havia ganhado em um sorteio da empresa dele.
O empresário sorteou um carro em uma festa de fim de ano da companhia e tomou o veículo da funcionária sorteada, alegando que ela não havia cumprido o regulamento. De acordo com Morgado, a mulher acabou demitida por comportamento inadequado.
Ao g1, Larissa contou ter ficado “em choque” ao receber a notícia de que Morgado era um dos investigados da Operação Narco Vela.
“Ele está envolvido junto de muitas outras pessoas, eu não sei do que são capazes. Se ele pode querer se vingar por conta da repercussão que meu caso deu, e ainda tem a questão do porte de arma. Então, tudo isso me traz muitas dúvidas e, claro, o medo de que algo pode ser feito contra mim”, destacou a auxiliar. “Estou bastante apreensiva e sinto medo de sair na rua sozinha”.
O g1 tentou contato com o advogado de Morgado, mas não o localizou até a última atualização desta reportagem.
Ameaças
Apesar de ter ficado surpresa com a prisão, Larissa afirmou que descobriu uma outra investigação contra Morgado após ele ameaçar o advogado dela, Paulo Ferreira. “Era algo que eu já imaginava que fosse acontecer mais cedo ou mais tarde”, afirmou.
Paulo contou ao g1 que estava negociando um acordo extrajudicial sobre o sorteio do carro com o advogado de Morgado, mas não conseguiu entrar em um consenso sobre uma nota de esclarecimento.
Ele disse que, dois dias depois, recebeu uma ligação em que o empresário agiu de forma grosseira com o defensor dele na linha telefônica.
“O Rodrigo estava super nervoso, vindo a me xingar. Depois disso, ligou em uma empresa que eu presto serviços dizendo que ia levar a gente para as ideias me acusando de estar extorquindo ele em R$ 100 mil reais, sendo que o acordo previa R$ 75 mil”, contou Paulo.
O advogado registrou um boletim de ocorrência contra Morgado para, ainda segundo ele, resguardar a vida pessoal e profissional. “[Estou] apreensivo, pois ele demonstrou um perigo andando armado. Agora, aguardo que sejam tomadas as devidas medidas para preservação da vida de todos”, finalizou.
Sorteio do carro
O sorteio de um Jeep Compass 2017 foi promovido pela Quadri Contabilidade, do empresário Rodrigo Morgado, para os funcionários em dezembro de 2024. A auxiliar contábil Larissa Amaral da Silva venceu o sorteio, mas perdeu o prêmio. Ela teve que devolver o carro à empresa por, segundo Morgado, ter descumprido o regulamento.
A funcionária foi demitida e a justificativa foi o comportamento inadequado, conforme informou ao g1 o empresário, que foi preso na terça-feira (29).
A jovem contou ter sido demitida após reclamações referentes ao carro, que, de acordo com ela, apresentou diversos problemas mecânicos desde que foi entregue.
De acordo com as regras estipuladas pela empresa, o carro só seria transferido para o nome do vencedor após o cumprimento de metas, como captação de clientes e participação em treinamentos internos.
Prisão
A princípio, conforme apurado pelo g1 e com base nos mandados obtidos, os policiais federais apenas fariam as apreensões nos endereços relacionados a Morgado, assim como sequestro de bens e bloqueio de contas. Porém, ao cumprir a medida, as equipes encontraram a arma. Entre os patrimônios apreendidos dele estão dois veículos de luxo.
Operação Narco Vela
A investigação da PF teve início após a DEA (Drug Enforcement Administration), que é a agência antidrogas dos EUA, comunicar a apreensão de 3 toneladas de cocaína em um veleiro brasileiro no alto-mar, próximo à África, em fevereiro de 2023.
A partir daí, a PF identificou um esquema voltado principalmente aos continentes europeu e africano, com uso de embarcações de longo curso e rastreamento por satélite.
O núcleo principal da organização criminosa operava a partir da Baixada Santista, onde a droga era armazenada e levada por lanchas rápidas até o alto-mar. Lá, era transferida para pesqueiros e veleiros, que seguiam até a costa africana, onde a carga era resgatada por outras embarcações menores. Segundo a Polícia Federal, 8 toneladas de cocaína já foram apreendidas.
Além das prisões, a PF informou que foram realizadas diversas apreensões, como carros de luxo, embarcações e drogas. A Justiça Federal também determinou o bloqueio e apreensão de bens até o valor de R$ 1,32 bilhão
g1