Assim que a mulher descobre que será mãe começa a busca por informações sobre como deve se sentir, os próximos passos para garantir a saúde do bebê, acompanhar se ele está do tamanho de uma uva ou uma ameixa. Mas além dos dados que a mãe busca, existem as opiniões que ela não procura, mas as pessoas insistem em dar. Em tom de alarme e terrorismo, conselhos insistentes em tom alarmante viram um terrorismo para as grávidas.
Quando conselhos não solicitados acontecem de forma contínua e incisiva, especialmente com pessoas próximas e ligadas afetivamente, podem gerar medos e inseguranças que trazem consequências emocionais para a mãe e podem afetar o bebê.
— Renata Lopes, ginecologista e obstetra com mestrado em Medicina Fetal pela Universidade de São Paulo
Com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, Renata fala sobre os principais terrorismo que giram em torno do que a grávida faz ou deixa de fazer, envolvendo cuidados com a beleza, escolhas na alimentação e até a prática de atividade física. A médica afirma que nem o terrorismo e nem a desinformação, mas sim a informação de qualidade é a opção mais leve e segura para passar pela gestação.
Para acolher as mães, e até as que escolheram não ser mães, Renata dá dicas e responde a cinco perguntas com os exageros em informações sobre a maternidade.
1 – Por que mulheres que não têm filhos [e que não querem ter] sofrem pressão? O “terrorismo” começa antes mesmo de gestar?
Vou mais longe na questão. Perguntas como “Não quer ter filhos?” ou “Quando o bebê vem?” podem vir carregadas de peso, independentemente da resposta ou cenário.
Há mulheres que são tentantes e o fato de não terem filhos ainda carrega dor e frustração. Por vezes, elas podem estar passando por exames complexos e invasivos de fertilidade e tendo conversas difíceis com seus parceiros. Abordar o porquê o bebê não veio é angustiante.
Em outras situações, a mulher tem dúvidas se ser mãe é um sonho que ela tem ou se é o esperado dela. Cobrança que pode vir de vários âmbitos, uma vez que, tradicionalmente, a sociedade atribui à mulher o papel da maternidade como se fizesse parte da identidade essencial dela – mesmo não sendo verdade para todas.
2 – Quais os principais terrorismos na gestação envolvendo as vias de parto?
As grávidas recebem julgamento independentemente do tipo de parto. Toda grávida possui questionamentos, dúvidas e inseguranças sobre a via de parto, mas existem algumas ferramentas que minimizam os medos, como o plano de parto, que é um documento que registra as escolhas do casal para o parto e a hora dourada do bebê (1ª hora de vida do recém-nascido).
A grávida enfrenta um turbilhão de emoções, a coisa que ela menos precisa é receber terrorismos sobre o tipo de parto escolhido ou ser julgada como se ela fosse menos mãe se for submetida a uma cesárea, por exemplo.
3 – E quais os terrorismos relacionados à alimentação?
Evite fazer qualquer comentário pejorativo sobre o peso da gestante, seja por ter mais ou menos peso. Esse tipo de terrorismo só aumenta a ansiedade e não ajuda em nada a futura mamãe. As orientações sobre o ganho de peso adequado devem ser restritas às orientações médicas durante a consulta.
Também existem críticas por crendices populares sem fundamentos. Uma vez, uma paciente ouviu que ia abortar porque estava comendo um pretzel com canela, o que lhe causou constrangimento. Isso não é verdade, a grávida pode consumir canela na quantidade de especiaria, meia colher de chá por dia. Converse com seu médico, tire a dúvidas com o médico e siga o plano.
4 – Proibir que grávidas façam exercício é exagero?
Grávidas que praticam atividade física podem receber conselhos errados de que o exercício pode levar à prematuridade e até a perda gestacional se realizado no primeiro trimestre. É mentira.
O recomendado é que gestantes façam pelo menos 150 minutos semanais de exercícios aeróbicos e de força, como musculação. A prática de atividade física na gravidez gera benefícios como melhora da consciência corporal, mobilidade, auxilia no ganho de peso adequado, diminui inchaço, dor lombar e a incidência de complicações como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia. Além disso, manter-se ativa pode ajudar durante o trabalho de parto em relação à resistência e a capacidade de permanecer em diversas posições para parir.
Entretanto, algumas modalidades são proibidas na gestação, como o mergulho com cilindro e a escalada em grandes alturas. Outras atividades precisam ser adaptadas, como o crossfit, esportes coletivos e ciclismo. E há situações em que a atividade física pode ser contraindicada pelo médico, como na vigência de sangramento.
5 – Transar na gravidez pode prejudicar o bebê?
O sexo é permitido em todos os trimestres da gravidez com exceção de situações de contraindicação obstétrica, como no risco de prematuridade. Do ponto de vista biológico, as modificações hormonais da gravidez favorecem a libido feminina, no entanto vale ressaltar que a libido é multifatorial e que cada mulher passa por uma experiência diferente.
É importante a grávida não sofrer terrorismo e achar que ter relação sexual pode trazer algum prejuízo para o bebê, não traz. Por outro lado, caso ela esteja com baixa libido, é fundamental entender que isso faz parte de um contexto temporário e ela deve procurar ajuda se necessário.
Dicas para você que convive com uma grávida:
- Não dê conselhos não solicitados;
- Não fale para uma mulher que ela tem que ter filhos ou quantos filhos;
- Não conte histórias de gravidez ou parto com desfechos trágicos;
- Não fale qual o melhor parto para ela;
- Não diga o que ela pode comer, beber e não faça qualquer comentário sobre o peso dela;
- Não fale sobre questões que não tem repertório como exercícios físicos e sexo.
Dicas para as grávidas: informem-se
A informação de qualidade é a principal arma contra conselhos alarmantes e desnecessários. A desinformação deixa a grávida num lugar de muita vulnerabilidade e insegurança. Quando ela é munida de conhecimento sobre o que pode e o que não pode na gravidez, ela passa um pré-natal tranquilo e sem sustos.
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