Portas fechadas se tornaram cena comum na Cidade Alta; Fecomércio indica que mudança de comportamento do consumidor afeta negócios na cidade

Conhecida por ser um ponto comercial muito tradicional de Natal, as memórias da Cidade Alta como um comércio pujante seguem o caminho de quem parte para o esquecimento. Calçadas pouco movimentadas e portas fechadas passaram a ser cenas comuns nas ruas e avenidas da região. Nesta semana, mais uma loja de renome deixou o bairro e escancarou esta situação.

A Magazine Luiza, que ficava na Avenida Rio Branco, confirmou o encerramento das atividades. Em nota, a assessoria de imprensa informou que o fechamento da loja “faz parte de um processo de aumento de eficiência operacional, resultado de meses de análises de aspectos como proximidade de unidades, luxo de consumidores e mudanças na dinâmica urbana”, evidenciando que a queda de movimento tem afetado comércios na região.

Ainda segundo a Magazine Luiza, a área de gestão de pessoas da companhia já atua para realocar o maior número possível de colaboradores que atua na unidade. Questionada, a loja não confirmou se haverá desligamentos desta unidade em caso de não conseguir realocar todos os funcionários e também não disse se há planos para fechamento de outras lojas no Rio Grande do Norte em 2024.

De acordo com Marcelo Queiroz, presidente da Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomércio/RN), esta região da cidade passa por uma fase de transição causada por uma mudança no comportamento do consumidor. “Observa-se uma mudança no perfil dos empreendimentos no Centro, migrando do Comércio para Serviços. A Fecomércio RN está monitorando esse fenômeno e participando ativamente das discussões”, pontuou.

Segundo Queiroz, a entidade participa de um comitê multidisciplinar criado pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN) que reúne representantes comerciais da Cidade Alta e também da Ribeira, com o objetivo de discutir soluções para estes bairros em meio às transformações de comportamento do consumidor.

“As propostas de alteração no Plano Diretor apresentam o potencial de impactar a dinâmica dessas áreas a médio e longo prazo, com a introdução de empreendimentos de usos mistos e o aumento do potencial construtivo, fatores que acreditamos contribuirão para a transformação do cenário”, apontou.

Em meio às dificuldades que os dois bairros enfrentam, o presidente afirma que a entidade tem se empenhado no apoio tanto à Cidade Alta quanto ao Alecrim, promovendo oportunidades de capacitação profissional e melhorias na qualidade de vida.

“No final do ano passado, por exemplo, realizamos um significativo projeto de estímulo ao comércio local. Por meio da campanha ‘Compre de quem está perto’, estruturamos o projeto ‘Brilha Natal Fecomércio’, que alcançou grande sucesso ao trazer uma variedade de atrações culturais para ambos os bairros. Além disso, realizamos uma sólida parceria com entidades públicas e privadas para fortalecer ações de segurança, iluminação e promoção dessas áreas cruciais para o comércio da capital”, ressaltou.

Quando o assunto é o fechamento de portas na Cidade Alta, nos últimos dois anos não se pode dar o papel de exclusividade à Magazine Luiza. Ao menos outras duas grandes redes deixaram de atuar no tradicional bairro da Zona Leste da capital potiguar. Em maio do ano passado, a loja de roupas Marisa encerrou as atividades e os funcionários foram realocados para unidades em dois shoppings de Natal.

Em março de 2022, a C&A, que ficava localizada no cruzamento da Avenida Rio Branco com a Rua João Pessoa, também encerrou as atividades. Na época, a empresa afirmou que as lojas em três shoppings da cidade continuam em funcionamento, além do e-commerce e prometeu que não haveria demissões. “Seguindo com sua responsabilidade, a empresa oferecerá todo o suporte necessário aos associados, além de remanejá-los para outras lojas da região”, dizia a nota oficial da C&A.

Em reportagens especiais do AGORA RN sobre a situação do comércio, houve até quem acreditava ser difícil reverter a situação da região. Foi o caso de Alexandre Góis, de 55 anos, que trabalhava, desde a adolescência, com o pai em um comércio. Segundo ele, a situação é totalmente diferente atualmente.

“Minimizar sim, reverter acho difícil voltar a ser o que era antes. Acho que a cidade cresceu. Abriram outros polos comerciais em outros bairros. Natal cresceu e se dividiu. Do público que frequentava a cidade, pouca gente ainda vem. Se virasse um novo Alecrim seria bom, mas nem isso. Vamos ver o que pode ser feito.”

Góis comparou a situação da Cidade Alta à do bairro da Ribeira, que também enfrenta esvaziamento das ruas, e sugeriu a necessidade de um acordo para manter a vitalidade da região. Ele mencionou uma recente reunião entre varejistas e bancos locais, que teve o objetivo de minimizar os prejuízos relacionados ao baixo movimento.

“Ficar igual a Ribeira, eu acho difícil, porque a Ribeira tem uma questão geográfica. Ela fica lá embaixo e a Cidade Alta toda aqui em cima. Então já é uma vantagem. Em uma reunião recente no CDL Natal, Americanas, Riachuelo, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú se comprometeram a não fechar as agências e as lojas que eles têm aqui, para a Prefeitura tentar ver o que pode fazer.”l

AgoraRN

Neuropsicopedagoga Janaina Fernandes