Durante sete meses, o Profissão Repórter acompanhou a rotina de três mulheres grávidas e dependentes de crack na região central de São Paulo. A chamada “Cracolândia” passou por uma transformação radical em maio, quando o fluxo de usuários foi desfeito. A reportagem voltou ao local para reencontrar Lilian, Grazi e Ana Paula, e mostrar o que mudou em suas vidas.

Entre a esperança e a recaída

Profissão Repórter acompanha grávidas com dependência química na Cracolândia | Foto: Reprodução/TV Globo
Profissão Repórter acompanha grávidas com dependência química na Cracolândia | Foto: Reprodução/TV Globo

Lilian Silva, de 32 anos, estava grávida de sete meses de seu quinto filho quando foi entrevistada pela primeira vez.

“É o meu primeiro filho com uso de drogas. Estou fumando crack há um ano. Nunca tentei parar, eu aceito a escolha que fiz, por enquanto”, disse.

Meses depois, Lilian deu à luz e foi encaminhada ao Serviço de Cuidados Prolongados (SPC) da Prefeitura de São Paulo. Sóbria, ela afirmou estar há 16 dias sem usar drogas. A equipe do programa a acompanhou até o cartório para registrar o bebê, que não teve o nome do pai incluído. “Acho que ele não é digno disso”, afirmou.

O bebê foi encaminhado a um abrigo, e Lilian se emocionou ao reencontrá-lo pela primeira vez desde a maternidade.

“Ele está lindo, cabeludo. Deu até umas risadinhas. Agora é cuidar de mim, para quando eu estiver bem, cuidar do meu Ruan Miguel. A minha parte, como mãe, eu acredito que está feita”, disse.

No entanto, após o esvaziamento da Cracolândia, Lilian voltou às ruas e recaiu no uso de drogas.

“Vai fazer duas, três semanas que não vejo meu filho. Ele está com minha mãe. A gente está tudo na ‘nóia’, na abstinência, tudo atrás de droga”, contou.

A mãe de Lilian, que cuida de outra filha dela, relatou a dor de ver a filha nessa situação.

“O que eu mais queria era que ela se tratasse. Eu choro, não como direito, não durmo. Quando vou comer, penso que ela está com fome. Quando vou dormir, penso que ela está deitada no chão.”

‘Tenho medo de não poder vê-los crescer’

Ana Paula Araújo, de 44 anos, estava grávida de três meses quando foi entrevistada. “Uso pedra da hora que acordo até a hora que vou dormir. É meu passatempo”, disse.

Mãe de seis filhos, ela revelou o medo de não ver os filhos cresceram.

“Eu tenho medo de não poder vê-los nascer ou crescer”.

Mais tarde, Ana Paula foi diagnosticada com polidrâmnio — excesso de líquido amniótico, condição que pode causar más-formações no feto.

“O médico disse que foi o crack que causou isso. Mas eu continuo fumando. Já tentei parar várias vezes”, contou.

Mulher mostra crack que usa | Foto: Reprodução/TV Globo
Mulher mostra crack que usa | Foto: Reprodução/TV Globo

Após uma operação policial na Cracolândia, Ana Paula perdeu o bebê.

“Teve confronto, jogaram bala de borracha e me acertaram. Devido ao susto, não segurei. Fiquei internada quatro dias na Santa Casa.”

Hoje, ela vive em um hotel no centro de São Paulo, onde paga R$ 100 por diária com o dinheiro que ganha vendendo balas nos faróis.

“Continuo fumando crack, mas agora fumo bem menos. Me cuido mais. Será que alguém um dia vai me dar uma oportunidade de trabalhar? Eu gosto de falar com o público, acho que tenho capacidade.”

‘Fumei até chegar na porta do hospital’

Grazi também estava grávida de gêmeos — sua quarta gestação múltipla.

“Nas outras, fumei até chegar na porta do hospital”, contou.

Durante a gravidez, ela relatou crises de automutilação e dificuldades emocionais.

“Continuo um pouco mais, e um pouco mais estressada, revoltada, eu estou tendo crise de mutilação”.

No último reencontro com Grazi, ela já estava de sete meses.

“Não estou me alimentando direito, passo muito nervoso, sinto muita falta da minha família, dos meus filhos.”

A reportagem tentou contato com os agentes de saúde que acompanhavam as grávidas na Cracolândia, mas não obteve autorização da Secretaria Municipal de Saúde para entrevistá-los.

Mulher grávida de gêmeos na Cracolândia | Foto: Reprodução/TV Globo
Mulher grávida de gêmeos na Cracolândia | Foto: Reprodução/TV Globo

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