A chegada de um novo ano pode ser uma oportunidade de renovar também as finanças para planejar um 2024 mais equilibrado. Em dezembro passado, o índice de endividamento das famílias alcançou 76,6% e 29% dos brasileiros tinham contas em atraso, aponta pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC). O momento é de entender os gastos, colocar no papel e organizar prioridades, orienta o professor de Administração e especialista em mercado financeiro Henrique Souza.
Nesse cenário, onde as contas antigas se somam com as do novo ano, como material escolar, IPTU e IPVA, por exemplo, Henrique Souza sugere estratégias para quitar essas dívidas e estabelecer bases para um futuro financeiro mais saudável. Encarar as dívidas não apenas como um obstáculo, mas como uma oportunidade de recomeço, é fundamental para alcançar esse objetivo, diz. Uma análise minuciosa da situação é o primeiro passo. Conhecer a fundo cada dívida, seus valores, prazos e condições é crucial para estabelecer um plano de ação eficaz.
“A população deve ter uma cultura de fazer o registro de todas as contas, classificadas como atrasadas e priorizar aquelas que apresentam importância maior. Cartão de crédito, aquelas que praticam juros mais altos, devem ser colocadas em primeiro lugar. Todas devem ser levadas em consideração do ponto de vista da pessoa ficar adimplente, entretanto tem aquelas que amedrontam mais os consumidores em função dos juros, como energia elétrica, água, por exemplo”, diz Souza.
A comunicação aberta com os credores é uma estratégia valiosa. Negociar termos e condições pode resultar em planos de pagamento mais flexíveis, redução de juros e, em alguns casos, até mesmo a quitação de parte da dívida. “Se for o caso da pessoa não conseguir pagar imediatamente aquela conta, é buscar fazer negociações junto às instituições credoras, vai depender do perfil de cada cliente. As contas devem ser mapeados e registradas para que as pessoas possam ver as formas possíveis, saber se as contas extrapolam o orçamento da família”, afirma.
Além disso, outra dica valiosa é ter atenção redobrada com o cartão de crédito. Em alguns casos, ele pode ser um dos principais culpados no acúmulo de dívidas devido aos juros elevados. Henrique Souza recomenda utilizar o cartão de maneira consciente e buscar quitar o valor total da fatura para evitar encargos adicionais. Avaliar a real necessidade de cada compra e estabelecer limites para o uso do cartão são práticas que contribuem significativamente para manter as finanças sob controle e evitar o ciclo vicioso das dívidas.
“Eu não diria que seria necessariamente o grande vilão, mas ele tem que ser utilizado com muita cautela, porque ele sempre está ali muito fácil, muito acessível. Apesar de que nós tivemos a definição por parte do governo federal que os juros do cartão de crédito não podem ser superior a 100% do valor da dívida, que já exista. É uma questão de educação financeira que o consumidor precisa possuir, no momento que eu sei que eu tenho meu cartão de crédito com X limite, e eu sei que ele vai ser um método muito utilizado, provavelmente ao longo do mês, e eu tenho outras contas para pagar, o indivíduo precisa trabalhar muito em cima do equilíbrio financeiro”, comenta.
Desenrola
Para dívidas de até R$ 20 mil, o governo federal oferece auxílio com o programa Desenrola. Prorrogado até 31 de março, o programa consiste na renegociação de dívidas e limpeza do nome do consumidor. As regras de participação no programa e as informações sobre o perfil de consumidor elegível estão disponíveis no site do Desenrola (desenrola.gov.br).
O Desenrola começou em outubro do ano passado para ajudar os brasileiros a limpar o nome. Ele abrange dívidas feitas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2022. Segundo dados do Ministério da Fazenda, o Desenrola renegociou até agora R$ 29 bilhões em dívidas. Quase 11 milhões de pessoas foram beneficiadas. Em média, o valor renegociado foi de R$ 250 para pagamento à vista e de R$ 790 para pagamento parcelado. Os setores com o maior número de renegociações foram o financeiro, de securitizadoras, empresas que compram as dívidas de consumidores com outras empresas, e contas de luz.
Tribuna do Norte